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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

É assim: vez enquando, uma coisa só começa mesmo a existir quando você também começa a prestar atenção na existência dela. Quando a gente começa a gostar duma pessoa, é bem assim.

Caio Fernando Abreu

Nadando num aquário




How I wish, how I wish you were here
We're just two lost souls
Swimming in a fish bowl,
Year after year,
Running over the same old ground.
What have we found?
The same old fears
Wish you were here

Pink Floyd

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011



A vida inventou mesmo de me dar uma lição definitiva. Não, não e não adianta tentar trapacear. Estamos, em suma, a viver um jogo de mão única, pautado em apostas incertas, em lances de azar e em questionamentos vindouros. Até ontem me vangloriava pela minha condição de felicidade, até ontem as coisas me sorriam sem motivo aparente, até ontem, mesmo, estava tudo certo pra dar tudo certo, pra coisas do tipo: viajar com magnólias, pular com macacos, atrapalhar-se com girafas animadas.  Mas, aí está a vida em sua peculiaridade, tão desejosa de nos enganar ela, trata inicialmente, de fazer com que sintamos a doce ilusão da felicidade. E não bastasse essa ilusão ela inventa as mais virtuosas peripécias e, como num lance de revolta, tal vida bem vivida e bem sábia de todos os meandros da safadeza, trata de nos derrubar. Paf! Estamos de volta no nível dos igualados; é meu caro. Viver tem dessas, é sendo derrubado que se aprende e é estando no mesmo nível que se subjuga aos mandamentos incertos desse doce viver.

sábado, 9 de julho de 2011

ATO I

ainda penso que a vida não me quer ser grata. na verdade ela quer ser traiçoeira, esquiva, quer que eu viva a correr atrás dela, pelas ruas, becos, vielas e rolando os barrancos. mas me deu uma canseira viu? me deu uma vontade imensa de ficar aqui, nesse meu cantinho, curtindo um-não-sei-o-quê-de-solidão! sei que me é mais cômodo, mais seguro e que ela - a vida - corra atrás de mim agora. aí, então, farei questão  de cantar cada letra daquela música amarga que eu era obrigado a dançar.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Quando não tenho mais nada

O que há de mais branco no meu vazio?  Se penso que vejo, engano-me, são apenas lagartixas atônitas e o sol a me cegar. Não há nada de novo nem de novo.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Através da linha torta



Tenho tempo pra dizer pra mim mesmo que a vida é um linha torta, com curvas ascendentes e descendentes e tantas outras construções. Tenho até tempo pra desmentir meus medos, esquecê-los, filtrá-los e enfim saná-los. Sei que há tempo pra tudo isso, mas no fim não há vontade de fazer tudo isso e tudo termina incompleto, indefinido, estranho, como uma vida rotineira. Ontem mesmo achei-me idiota, pensando que os outros pensam no que estamos pensando. Ninguém pensa como a gente e no fim das contas cada um pensa de um modo e eu devo mesmo é pensar em mim, olhar pra vida, apreender suas curvas pra não tropeçar pelo caminho. E se eu cair? Levantarei-me e continuarei a viver, até por que nada melhor do que ter uma vida de surpresas, um dia agente cai outro se levanta, o que não podemos é parar no caminho, senão nos misturamos à linha da vida e quem se torna torto somos nós.


segunda-feira, 27 de junho de 2011

O fim do "hoje"

Faço questão de mentir pra mim mesmo: eu quero essa minha verdade, esse meu olhar torto e continuar sentado na beira da cama. Não tenho mais forças, levantar exigirá muito de mim, acho que me entregarei aos lençóis e procurarei naquele meio algum sono profundo, mas não quero partida - e digo isso sorrindo- não! não quero! Acho que me resta um filete pequeno de esperança, essa no sentido de ir e será certa a part-ida. Até por que cansei de estar preso, " santo", àquela cama torta de madeira escura. Às vezes me pergunto se a cama não é o inteiro reflexo da minha vida, sei que não, a cama é fria, torta, escura, essas coisas de um só tipo.  Já eu, sou como uma reflexão contida em travessões desconcertados, tudo escrito em palavras mistas. Não sou a morte droga! Não! E não a sendo, sou só um miolo, ainda vivo, estirado naquela cama e percebendo que mesmo sendo dolorida, a verdade é mais que necessária e no fim se tornará doce.  Ela será, então, minha terna companheira, partiremos descompromissados para os confins da incerteza, do caminho obscuro, da vida não planejada. Voltarei, ou melhor, voltaremos, eu com a certeza de que é melhor partir, a verdade como minha acompanhante mais que bem - vinda ( hávida).

                                     digo que não é repetição. só é tempo presente e passa.
          
                                                        

domingo, 26 de junho de 2011

A descoberta de hoje

Enfim descobri, ao menos em tempo, que perder conscientemente é sempre melhor. É só assim que acabamos com essa busca em vão de algo impossível, tipo essas histórias de amor, conversas espontâneas e algo mais. Em tempo, acabei sabendo que não há contos doces de amor, por que vivemos um caso real, interpretamos papéis, ditos verdadeiros, e fazemos o que queremos com os fantoches alheios. Somos os grandes vilões, os mesmos mocinhos, somos rápidos, lentos, atentos, desatentos. Vamos em busca do que queremos, pois vivemos desses nossos interesses e veja bem: só faço isso por que o lucro é meu, mas então de quem é o lucro? O lucro é do mais esperto! Basta ter mente forte, racionalismo aguçado, e espetar a vida do outro, assim se vive, eu nessa vontade de ir, o "ir" na vontade de ficar.

Durante algum tempo fiz coisas antigas como chorar e sentir saudade da maneira mais humana possível: fiz coisas antigas e humanas como se elas me solucionassem. Não solucionaram.
Caio Fernando

Precisão

O que me tranqüiliza é que tudo o que existe, existe com uma precisão absoluta. O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete não transborda nem uma fração de milímetro além do tamanho de uma cabeça de alfinete. Tudo o que existe é de uma grande exatidão. Pena é que a maior parte do que existe com essa exatidão nos é tecnicamente invisível. O bom é que a verdade chega a nós como um sentido secreto das coisas. Nós terminamos adivinhando, confusos, a perfeição.

Clarice Lispector

sábado, 25 de junho de 2011

A graça de hoje

                                        
Até ontem a minha graça era ser soberano, idiota, achando que dessa vez a vida não me tinha sido irônica. Então, nasce o dia, e com ele a enxurrada de verdades, das velhas, que me eram tão habituais. O mesmo do mesmo, eu um panaca, com as mesmas vontades, os mesmos erros, passando pelas mesmas dores. E olhe que minha grande promessa era ser só, alheio a tudo aquilo que me afetava. Estranho é que não existe mudança, ao menos pra mim, suficiente. Então continuo o bobo de sempre, fazendo o papel de ponte de ligação nenhuma, pra lugar nenhum.
    
                                   a grande verdade da vida é a pequena escolha que prendemos.

To you

Talvez as coisas pudessem ser bem mais fáceis como dois mais dois são quatro. E então vens tu, com essa monotonia dos poetas e altera todo o sistema, na verdade dois mais dois são flores ou pássaros ou beijos isso quando está tudo bem, poetas alternam. É com essa inconstância que eu me pergunto se vale a pena esperar, e insistir veementemente, como um perdido em meio a selva da incerteza, caminhando trôpego por lugares nunca dantes conhecidos. Na verdade, eu estou em vão, perdido na minha própria teimosia de querer entender o amor, e depois, só depois, amar! E mesmo assim, nem sei se esse sentimentalismo todo é compartilhado, até por que amar tem sido tão arcaico, amor é coisa de loucos, o bom mesmo é paixão, atração, uma noite passageira e pronto, estamos amados! E esquecemos que desse jeito acabamos não amando, eu mesmo acabo estranhando, enfim perdido. Esse desarranjo todo decorre dos olhares. E então pra que olhas? O olhar quando intenso consegue ter ação duradoura, ainda mais em mim, com essa mania provinciana de retribuir olhares. Creio que a saída para o caso não realizado seja a indiferença. Só assim é que se vive ora com aquela dúvida insana, ora com a certeza de que para outrem estás tu na mais perfeita ordem. Mas não há fingimento que me contenha, e tolo acabo escravo do meu próprio desejo.

            cada momento tem o seu orgulho. o meu orgulho é o momento mais fraco.