Páginas

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Depois do sonho

Naquela noite eu estava no auge do meu sonho quando insistentemente fui obrigado a levantar da minha cama fria. Eu sabia que seria uma tarefa árdua, ter que sustentar o meu corpo cansado, calçar as sandálias e paulatinamente contra toda minha vontade me dirigir à mesa do café. Minhas pernas estavam a ponto de sucumbir ao meu desejo voraz de voltar aquele sonho, tão cheio de surpresas, um sonho que por mais revelador que tenha sido me fez um bem do mal. Não sei se os sonhos são relatos meramente fictícios de invenções da nossa mente. Mas são enigmáticos em toda sua trama, incrustado de situações por nós esperadas, mas que repentinamente acaba por acabar. Talvez aqueles que nos acordam nos momentos mais intensos dos sonhos sabem que não podemos ir além. Não no sentido de interromper desejos ou um direito de sonhar, mas sim no sentido de barrar aquilo que pode nos decepcionar. Sei que mesmo assim, após acordado caminhei até a mesa e ainda assim continuei em estado de sonolência como se as coisas que ali me alimentariam fossem feitas para me manter nesse estado de viver o que intensamente me pesa.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Questão de decisão

Às vezes as palavras são fracas que consigo prendê-las bem no fundo de algum cantinho dos meus medos. Consigo ainda emudecê-las, filtrá-las, selecioná-las. E as palavras, tontas, perdem-se nesse meu autoritarismo. Minto, omito, finjo que rio, invento singularidades só para não usar as verdadeiras palavras. Mas não chega a ser um mentir hediondo. Deveriam existir graus de mentira, acho que eu estaria no ponto daqueles que mentem por insegurança. Talvez eu nem minta, admito que omito, pergunto-me quais serão as consequências, imagino um caos depois que eu soltar essas tais palavras. Fico nessa linha tênue entre o fazer e o recear. Se faço me desestabilizo. Ou me estabilizo de um outro modo. Se receio, permaneço, com minha estabilidade que talvez seja até um instabilidade. Ainda continuo a pensar em possibilidades, eventualidades, e tantas outras posteridades. Sintomaticamente sou um fraco. Admito que me falta coragem. "Luta!", grita uma voz clara ao meu ouvido. É óbvio que é necessário ir à luta. Mas é necessário? Há outra voz que oferece equilíbrio, comodismo, permanência. Sei que a voz que me manda  lutar é mais forte, mas lutar como? Será que caberá exclusivamente a mim enfrentar barreiras, quebrar conceitos e demonstrar sentimentos?
São tantas as oportunidades, mas essa  minha força contrária, tirana, tão bem criada me impede de ir além. Extremamente racional eu me pergunto o que há nesse além. Além do que? Além pra que? Será um além- mar, com uma campina ensolarada envolta de árvores frutíferas que em toda essa calmaria permita um bem comum? Embora a voz, a voz do equilíbrio, insista em me dizer que há mesmice, há rejeição, há pesadelos sociais.
Sinceramente cansei dessa minha fraqueza desejada, alojada intrisicamente a esse meu comodismo aterrador. Não me guiarei mais por vozes externas, serei agora guiado por sentimentos que possam me oferecer felicidade. Um dia eu posso pagar caro por essa inativez, mas também eu posso agradecê-la. Não sei. Sei que não sei. Sei que será melhor eu passar a entender meus medos, a escolher os meus desejos, a acreditar nas aventuras. Há sim um horizonte. Há um além. Cada um idealiza o seu além. Pode ser bom, pode ser ruim. Pode ser doce, ou amargo. Pode ser uma mistura de sabores. Cada um com seu além. Sei ainda que permanecer é um estado para os acomodados. Sou cômodo. Estou cômodo. Serei o que não sei se será o melhor. Sei que passarei a acreditar nas mudanças, nos sonhos, num futuro incerto. Sei que loucos foram aqueles que com força souberam enfrentar seus medos. Apesar de cansado do meu comodismo eu posso sucumbir a seus benefícios. Tudo reside nessa incerteza. Tudo não depende de tudo, nem de todos. Pode depender de poucos, pode ter significado para poucos. Serão sempre bem decididas as escolhas acompanhadas de desejos iguais. 

S.C.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Passado presente



Há nos objetos lembranças do passado
há naquele relógio quebrado ao lado do quadro um som  de passos abafados
são sempre memórias de uma passado que não concretizado insiste em voltar
são marcas doloridas de momentos de agrado, de risos soltos e de pensamentos criados

tão singelo era o toque inalcansável das palavras a serem ditas
eram presas tais palavras, mas criavam uma aura de explicação
ainda que perto tenha sido o passado
talvez nem seja autêntico se ainda fizer parte do meu lado.
               
S.C.