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segunda-feira, 27 de junho de 2011

O fim do "hoje"

Faço questão de mentir pra mim mesmo: eu quero essa minha verdade, esse meu olhar torto e continuar sentado na beira da cama. Não tenho mais forças, levantar exigirá muito de mim, acho que me entregarei aos lençóis e procurarei naquele meio algum sono profundo, mas não quero partida - e digo isso sorrindo- não! não quero! Acho que me resta um filete pequeno de esperança, essa no sentido de ir e será certa a part-ida. Até por que cansei de estar preso, " santo", àquela cama torta de madeira escura. Às vezes me pergunto se a cama não é o inteiro reflexo da minha vida, sei que não, a cama é fria, torta, escura, essas coisas de um só tipo.  Já eu, sou como uma reflexão contida em travessões desconcertados, tudo escrito em palavras mistas. Não sou a morte droga! Não! E não a sendo, sou só um miolo, ainda vivo, estirado naquela cama e percebendo que mesmo sendo dolorida, a verdade é mais que necessária e no fim se tornará doce.  Ela será, então, minha terna companheira, partiremos descompromissados para os confins da incerteza, do caminho obscuro, da vida não planejada. Voltarei, ou melhor, voltaremos, eu com a certeza de que é melhor partir, a verdade como minha acompanhante mais que bem - vinda ( hávida).

                                     digo que não é repetição. só é tempo presente e passa.
          
                                                        

domingo, 26 de junho de 2011

A descoberta de hoje

Enfim descobri, ao menos em tempo, que perder conscientemente é sempre melhor. É só assim que acabamos com essa busca em vão de algo impossível, tipo essas histórias de amor, conversas espontâneas e algo mais. Em tempo, acabei sabendo que não há contos doces de amor, por que vivemos um caso real, interpretamos papéis, ditos verdadeiros, e fazemos o que queremos com os fantoches alheios. Somos os grandes vilões, os mesmos mocinhos, somos rápidos, lentos, atentos, desatentos. Vamos em busca do que queremos, pois vivemos desses nossos interesses e veja bem: só faço isso por que o lucro é meu, mas então de quem é o lucro? O lucro é do mais esperto! Basta ter mente forte, racionalismo aguçado, e espetar a vida do outro, assim se vive, eu nessa vontade de ir, o "ir" na vontade de ficar.

Durante algum tempo fiz coisas antigas como chorar e sentir saudade da maneira mais humana possível: fiz coisas antigas e humanas como se elas me solucionassem. Não solucionaram.
Caio Fernando

Precisão

O que me tranqüiliza é que tudo o que existe, existe com uma precisão absoluta. O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete não transborda nem uma fração de milímetro além do tamanho de uma cabeça de alfinete. Tudo o que existe é de uma grande exatidão. Pena é que a maior parte do que existe com essa exatidão nos é tecnicamente invisível. O bom é que a verdade chega a nós como um sentido secreto das coisas. Nós terminamos adivinhando, confusos, a perfeição.

Clarice Lispector

sábado, 25 de junho de 2011

A graça de hoje

                                        
Até ontem a minha graça era ser soberano, idiota, achando que dessa vez a vida não me tinha sido irônica. Então, nasce o dia, e com ele a enxurrada de verdades, das velhas, que me eram tão habituais. O mesmo do mesmo, eu um panaca, com as mesmas vontades, os mesmos erros, passando pelas mesmas dores. E olhe que minha grande promessa era ser só, alheio a tudo aquilo que me afetava. Estranho é que não existe mudança, ao menos pra mim, suficiente. Então continuo o bobo de sempre, fazendo o papel de ponte de ligação nenhuma, pra lugar nenhum.
    
                                   a grande verdade da vida é a pequena escolha que prendemos.

To you

Talvez as coisas pudessem ser bem mais fáceis como dois mais dois são quatro. E então vens tu, com essa monotonia dos poetas e altera todo o sistema, na verdade dois mais dois são flores ou pássaros ou beijos isso quando está tudo bem, poetas alternam. É com essa inconstância que eu me pergunto se vale a pena esperar, e insistir veementemente, como um perdido em meio a selva da incerteza, caminhando trôpego por lugares nunca dantes conhecidos. Na verdade, eu estou em vão, perdido na minha própria teimosia de querer entender o amor, e depois, só depois, amar! E mesmo assim, nem sei se esse sentimentalismo todo é compartilhado, até por que amar tem sido tão arcaico, amor é coisa de loucos, o bom mesmo é paixão, atração, uma noite passageira e pronto, estamos amados! E esquecemos que desse jeito acabamos não amando, eu mesmo acabo estranhando, enfim perdido. Esse desarranjo todo decorre dos olhares. E então pra que olhas? O olhar quando intenso consegue ter ação duradoura, ainda mais em mim, com essa mania provinciana de retribuir olhares. Creio que a saída para o caso não realizado seja a indiferença. Só assim é que se vive ora com aquela dúvida insana, ora com a certeza de que para outrem estás tu na mais perfeita ordem. Mas não há fingimento que me contenha, e tolo acabo escravo do meu próprio desejo.

            cada momento tem o seu orgulho. o meu orgulho é o momento mais fraco.