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terça-feira, 3 de setembro de 2013

Não Me Adapto

não me adapto às silhuetas cardíacas
nem às linguetas pulmonares 
- que num sistema cardiopulmonar intrínseco -
ignora o arfar tropical das meninas carnavalescas 
e a aurora mitigada dos ermitões baianos

meu ponto é de não adaptação

não me quero nessa epopeia desvairada e desnorteada,
que ruma ao sem rumo do seachismo

não irei a festas noturnas com vestes black-chic para agradar os valentões anti-litorais

não me incluirei em mais uma movimentação abastada,
até que os abastados reconheçam certas vozes oprimidas ali presentes

não me identificarei com sistemas herméticos de coleta sanguínea,
até que a p-polidez humana desperte para a premente necessidade de educação

não me adapto a nem mais uma leva de cem-levas de corpos nus,
regulares,
regulados,
regrados,
retardos...

sábado, 31 de agosto de 2013

Tolos Anatômicos

Ainda ontem eu escrevia já cansado e visualizava as estruturas, todo voltado pra anatomia.  Mas em que corpo eu pensava? Em que condição morfológica eu me prendia? Talvez nem eu mesmo saiba. Tenho visto tanta gente ultimamente, e só tenho visto mesmo, viu? Por que me intriga a forma como as pessoas se relacionam, e é tão intrigante quando elas tendem a serem pensativas, meditabundas, como se estivessem planejando a próxima jogada, e então, estamos diante de jogadores, no jogo tolo dos trapaceados. E nunca nos conscientizamos que se ganharmos aqui, perderemos tudo logo ali na frente. Sempre inflamos nossos egos superficiais, com nossa mania de ser o melhor, o mais aparente, a peça anatômica do jogo. Mas quando acabamos decepcionados, desolados, desconsolados, aí somos o completo cadáver do jogo; é quando a sociedade trata logo de nos enterrar ou promover a panaceia do estudo de causas: enlouqueceu porque não comprava roupas da moda, está depressivo por que não vai ao shopping, é feio porque não tem um carro importado, e viramos, dessa forma, verdadeiros cadáveres sociais.
Costumam dizer que a vida é bruta. Indo muito além, creio que a vida é bruta e indigna. E nós, peças ambulantes e futuros cadáveres, contentamo-nos com as condições impostas. No fim, tudo isso aqui é tido como discurso engajado, voltamos a viver engraçados com os nossos companheiros-concorrentes, nesse jogo de tolos anatômicos.