Ainda ontem eu escrevia já cansado e visualizava as estruturas, todo
voltado pra anatomia. Mas em que corpo
eu pensava? Em que condição morfológica eu me prendia? Talvez nem eu mesmo
saiba. Tenho visto tanta gente ultimamente, e só tenho visto mesmo, viu? Por
que me intriga a forma como as pessoas se relacionam, e é tão intrigante quando
elas tendem a serem pensativas, meditabundas, como se estivessem planejando a
próxima jogada, e então, estamos diante de jogadores, no jogo tolo dos
trapaceados. E nunca nos conscientizamos que se ganharmos aqui, perderemos tudo
logo ali na frente. Sempre inflamos nossos egos superficiais, com nossa mania
de ser o melhor, o mais aparente, a peça anatômica do jogo. Mas quando acabamos
decepcionados, desolados, desconsolados, aí somos o completo cadáver do jogo; é
quando a sociedade trata logo de nos enterrar ou promover a panaceia do estudo
de causas: enlouqueceu porque não comprava roupas da moda, está depressivo por
que não vai ao shopping, é feio porque não tem um carro importado, e viramos,
dessa forma, verdadeiros cadáveres sociais.
Costumam dizer que a vida é bruta. Indo muito além, creio que a vida é
bruta e indigna. E nós, peças ambulantes e futuros cadáveres, contentamo-nos com as condições impostas. No fim, tudo isso aqui é tido como discurso
engajado, voltamos a viver engraçados com os nossos companheiros-concorrentes,
nesse jogo de tolos anatômicos.